- só os loucos sabem

Lembro-me tão claramente daquela neblina cinzenta que quebrou o meu ânimo ao mesmo tempo que os meus pés fugiam de casa. Matreira, escondia o horizonte por detrás da sua frieza. Apenas vastas sombras turvas se faziam notar, pequenos gestos indecifráveis e o assobio de uma brisa pesada que se atravessava no meio dela. Estranha figura se escondia por detrás deste ar quase oculto, tão quieta e estranhamente imóvel, grande e de silhueta perfeita, intimidante perante todas as outras insignificantes sombras que se moviam ao seu redor. Convenci-me ser uma estátua de qualquer personagem memorável desconhecida, simplesmente esquecida em datas históricas de um passado desinteressante. Ignorei a sua presença chata e voltei a realidade onde o tempo continuava a contar. Minuciosamente ia observando cada um daqueles seres apressados, desastradamente ridículos que passeavam como almas penadas do cemitério, desgastando desnecessariamente a sola dos sapatos enquanto aquela imagem me corroía os miolos. Apercebi-me então da beleza daquela fumaça de nuvens. Inúmeras almas escuras que vagueiam sem propósito neste mundo, que insistem em se esconder por detrás de uma faceta irreal, eram filtradas e desmascaradas pela neblina. Mostravam-se agora como simples sombras embaciadas e imperfeitas. Mas a insistência dos meus pensamentos levavam-me a fixar aquela criatura central que até agora não movera palha, que se destacava do resto destas lombrigas cobertas de estupidez. Repentinamente, instala-se uma fragrância tão doce e reconfortante, decerto conhecida, e inesperadamente, a imobilidade daquela estátua evapora-se e vejo-a aproximar-se de mim. Um rosto charmoso começa a desenhar-se no meio desta paisagem indecifrável e sinto o meu corpo palpitar quando reconheço a sua presença, pois finalmente, descobri que se escondia por detrás deste panorama assustador um verdadeiro príncipe de faceta real que um dia irá marcar a história.