- só os loucos sabem

Estava vidrada naquela imagem, temia que não tivesses esperado. Cavalgava frenética por aquela rua íngreme como se não houvesse amanhã. As minhas pernas já tremelicavam com o esforço, mas a minha alma ansiosa explodia como trovões em mim, jatos de sangue percorriam o meu corpo mostrando a minha impaciência. Sentia o meu coração aflito e agitado, o receio de ter que encarar um vazio apenas portador da tua fragância fazia-me encurtar aquela distância como uma lebre. Mas tilintava cá dentro a esperança, e os meus olhos começavam a arder de desejo. Fantasiava com os minutos que se aproximavam: um quarto ardente de paixão, dedos que percorriam aquelas silhuetas com malícia numa delicadeza arrepiante, dois amantes insaciáveis consumidos num beijo molhado, dois corpos suados que se iam roçando numa destemida intimidade, descobrindo a suavidade daquela pele, incendiando o ar com a pureza do sentimento que ia nascendo, ensurdecendo o silêncio com roucos gemidos de prazer. A excitação vibrava na minha mão e sentia-me incapaz de abrir a porta. Atravessei a casa como um furacão, desvirando inconscientemente cada obstáculo. Silenciei-me quando cheguei a porta do quarto, abrindo-a cuidadosamente e engolindo o coração que quase me chegava a boca. Por entre névoas de escuridão, consegui decifrar a tua presença. Ajoelhei-me comovida à beira da cama, observei encantada as tuas feições perfeitas, apaixonei-me por ti enquanto os teus olhos fechados reflectiam a grandeza do teu ser, e lentamente, embalei-me na tentação e os meus lábios encostaram nos teus. Despertaste num suspiro profundo e atiraste-me para o teu lado, envolvendo-me na suavidade dos teus beijos, abrindo caminho por debaixo da minha roupa com a tua mão, e a paixão começou a pairar no ar.