8.24.2011


Senhor padre,

até hoje, nunca cometi um pecado invulgar, apenas as pequenas traquinices normais, as palavras ofensivas, as maldades impensadas, os gestos impróprios ou até pensamentos pouco sinceros. Mas até hoje, sempre fui forte e corajosa. Enfrentei todas as tormentas que me acompanham, engoli em seco a dor, ergui a cabeça e esqueci o sofrimento e os tristes pensamentos indesejados. Mas assim que cá chego, a realidade bate em mim como trovoada e rebaixa os bons pensamentos e as esperanças que tento manter tão firmemente. Lembro-me da crua verdade e forma-se dentro de mim um feroz aperto, a voz não me sai, como se o ar se travasse na garganta e ali bloqueado não se movesse, as minhas cordas não vibrassem segundo a minha vontade, e os meus olhos repletos de tristeza não conseguissem evitar as lágrimas. Mas ainda assim me esforço e luto contra a tempestade no meu coração, respiro fundo, ergo o olhar e controlo as emoções a todo o custo. Não quero mostrar a minha fraqueza, o meu sofrimento, os meus pessimistas pensamentos que invadem o meu todo. Não consigo por um fim nestas questões sem resposta que surgem e surgem insaciavelmente. Crescemos ao passo que aprendemos a amar, formamos fortes e inquebráveis laços, vivemos inesquecíveis peripécias do destino, e tudo isto sem pensar no pior. Como poderá um pequeno bichinho invadir todo um corpo, dominá-lo e ser capaz de leva-lo ao fim, tão cruel e insensivelmente? Este bichinho levará um dia quem eu mais amo, aqueles que diariamente preciso para me fazer crescer e sorrir. Por mais que queira acreditar que é apenas um pesadelo que me está a acompanhar e que com um estalar de dedos voará com as poeiras no ar, a razão acorda-me e prevalece. Sei que mais cedo ou mais tarde irá acontecer e que eu estarei sem eles neste planeta, andando solitária nos campos sentindo a saudade eterna, sem fim. A minha mente complicada tenta criar formas de diminuir a dor por quem parte, mentalizando-me de   quem nasce não fica cá para a semente. Mas não seria amor o que eu sinto se reagisse à morte com descansada e tranquila pacificidade. Podera eu conseguir acumular estes bichinhos malditos em mim e carregá-los até ao fundo do escuro mar, deixando viver alegre e felizmente os meus entes queridos, sem qualquer preocupação. Mas tal nunca será possível e esta é a realidade dura que tento esquecer dias a fio. Ainda espero descobrir o que faz deste sitio tão misterioso, que leva a verdade a encarar-me de frente, não me deixando alternativa à tristeza. Talvez seja a fé, as milhares de lágrimas derramadas neste chão ou apenas a brisa quente que paira, mas um dia, voltarei sozinha e porei a minha força à prova. Enfrentarei a maldade e o sofrimento, deixá-las-ei tomar conta de mim, não me irei conter e deixarei as pesadas lágrimas caírem no solo, serei uma miserável criança chorosa num banco em Fátima, a sofrer por um futuro inevitável. Enquanto isso, senhor padre, perdoou-me os meus pecados, que nada são comparadas a tais maldades. 

24 comentários:

Anónimo disse...

Está muito bem escrito!

anna disse...

esta lindo, gostei.

como se chama a música? sigo o blog*

Alexandra M disse...

não tenho palavras para descrever, está realmente bonito! parabéns*

marilia . disse...

exactamente .
que belo !

van isabel. disse...

Muito obrigada (:
Também gostei imenso deste teu texto (':

Diana Oliveira disse...

O filme é realmente muito bonito :)

Tu escreves tão bem, continua, gosto dos teus textos. Parabéns :)

van isabel. disse...

Obrigada, querida *

daniela fernandes disse...

muito obrigada bianca :$
um beijo.

inês disse...

muito obrigada :)

Marisa Ventura disse...

muito obrigada **

Anónimo disse...

gostei fofinha , obrigada

Helena disse...

Gostei imensamente.

Flávio Mata disse...

Também eu :)

Anónimo disse...

obrigada eu, linda <3

Rita disse...

Muito obrigado! Fico muito feliz por teres gostado. :)

Helena disse...

Muito obrigada pelas palavras :)

Dahliaw disse...

Está lindo! Muito obrigada pelo apoio :)

Ade disse...

como gostei :)
eu tenho como que uma estaca no meu coração que me está a impedir de sentir algo, por não querer voltar a sofrer e ter uma desilusão.

Rita disse...

Mais uma vez muito obrigada Bianca! :)

Maggie disse...

que simpática :)
muito obrigada e também estou a seguir !

Maggie disse...

não tens de agradecer.
mas olha vou por o meu blog em privado, podias dar-me o teu mail para poderes continuar a ve lo?

Ade disse...

neste momento já tomei uma atitude: o que tiver de acontecer acontece e os medos não me podem impedir de fazer o que quer que seja, por muito que o passado teime em pedir segurança. o que sei é que estarei segura com o que farei por mim mesma, o que vier a mais é vindo de boa vontade :)

Ade disse...

acho que o pesar das voltas que no meu curso irei sofrer contribuiu para que tomasse essa atitude :) não tenho tempo a perder com coisas não garantidas, com um carinho que pode nem ser correspondido. tenho mais em que pensar e fazer :) oh obrigada minha querida.

Ade disse...

sim tenho :)